terça-feira, 7 de junho de 2011

Pina, Wenders e a subjetividade da Arte

Não conhecia a obra da coreógrafa alemã, tendo apenas dela vislumbrado algumas imagens, mais da artista do que propriamente da sua obra diga-se.
Do realizador conhecia bem mais: de "Paris-Texas" a "Asas do Desejo" passando por "Buena Vista Social Club"[BVSC] e sem esquecer "Viagem a Lisboa" - apenas para mencionar alguns - todos, de uma forma ou de outra, me interessaram, mais não seja pela inegável marca de Autor.

E o que dizer de "Pina" a sua homenagem a Pina Bausch que aqui assume a forma de documentário [tal como sucedera com o belissimo BVSC]?

Vamos por partes: 

A Artista e o seu Legado - se a Obra de Bausch consistiu  na técnica e opção expressivo-emocional que o filme retrata na sua maioria então aquela não é, definitivamente, o meu género - mais me parecendo todos os seus personagens como integrantes de um hospício qualquer, plenos de tiques e trejeitos de insanidade inquestionável e onde o único estado emocional que consigo vislumbrar é o da loucura. 

Por momentos - em dois ou três números - ainda consegui ver retratados outros sentimentos - como a paixão ou a tristeza - mas, infelizmente, não foi essa a tónica do filme por - presumo eu por desconhecimento - fidelidade à sua autora. 

Uma conclusão portanto quanto a esta: a Dança - tal como todas as Artes - é por natureza subjetiva e depende, em grande parte, dos "olhos" do seu recetor/espetador e eu, dentro da subjetividade que esta me permite, não me incluo naqueles - muitos - que se confessam admiradores de Bausch - muito pelo contrário! Dentro do género em que esta se insere já vi "obras coreográficas" que  bem mais me emocionaram ou impressionaram pela complexidade de emoções que conseguiram expressar e que é, no fundo, o âmago da questão e objetivo último do registo contemporaneo. 

O Realizador e a sua Homenagem - Wenders optou por uma realização praticamente invisível  e intimista na homenagem à sua Musa, deixando quase todas as falas a cargo dos bailarinos que integraram a Companhia daquela e dos seus depoimentos - até aqui, completamente legítimo e de saudar. 

Sucede no entanto que ficamos com a sensação que passamos a conhecer relativamente melhor a coreógrafa e o seu processo criativo mas que faltou a pessoa e a personalidade por trás daquela...sim, tinha uma personalidade no limiar da (in) sanidade e atormentada mas essa conclusão é pouco, muito pouco.

Resta, portanto, uma bonita - mas nunca muito emocionante - homenagem à Artista faltando o retrato e definição da Mulher por trás daquela...quem sabe entendesse melhor a sua Arte se tal não sucedesse...afinal, não põem todos os artistas muito de si naquilo que fazem?  

Veredicto: Não obstante uma homenagem ser sempre de saudar, o documentário de Wenders falha por lacunas de definição e caracterização da sua personagem principal e cuja Obra não é, definitivamente, do género do Autor porque redutora de toda uma complexidade de sentimentos que o género [contemporaneo] inatamente propicia.

Pina
IMDB Users: 8.0/10 (680 votes) 7 reviews | Critics: 51 reviews

Sem comentários: